quinta-feira, 8 de maio de 2008

AGRICULTURA ORGÂNICA NA GORONGOSA

De Vasco Galante, Director para a Comunicação do
Parque Nacional da Gorongosa, recebemos o seguinte
comunicado de imprensa que, abaixo, se publica.
Texto de Carlitos Sunza
Fotos de Stephanie Hanes
Exemplo de Agricultura Orgânica em Gorongosa
João Jongue

O camponês João Jongue, do bairro Mangu, vila da Gorongosa,
distrito do mesmo nome, na província central moçambicana de Sofala,
é exemplo da prática de agricultura orgânica neste ponto do país.

João Jongue,
exemplo da Agricultura Orgânica na vila da Gorongosa
Jongue, optou por esta técnica de maneio agrário para aumentar
significativamente a produção e a produtividade agrícolas com
a finalidade de garantir a segurança alimentar e gerar rendimentos
para satisfazer as demais necessidades no seio da sua família.

Por outro, segundo a fonte evita o desbaste de terras,
pois permanece muito tempo a trabalhar na mesma machamba
mantendo os mesmos níveis de produção
no final de cada época de colheita,
ao contrário dos seus colegas que usam as queimadas
para limpeza dos campos de cultivos.
Trata-se de uma metodologia que concorre para o rápido
empobrecimento dos solos o que, por conseguinte,
obriga os camponeses
que adoptam esta prática a abrir novas machambas noutros
lugares depois de duas a quatro campanhas agrícolas,
pois as terras deixam de produzir o necessário.
O nosso interlocutor diz que o seu sistema de produção
tem como base a rotação de culturas e a adubação verde.
Assim, como avançou à nossa reportagem, consegue fazer a
manutenção da estrutura e da profundidade do solo,
sem alterar suas propriedades.
“Eu uso uma técnica muito simples,
mas obtenho maior rendimento agrícola.
Esta técnica consiste em os restos vegetais de uma
campanha agrícola servirem de estrume para a outra e sucessivamente.
Por exemplo, se numa determinada campanha agrícola
semeio o milho depois da colheita deixo cair os caniços em linhas,
separadas uma da outra por uma distância de pelo menos dois metros,
intervalo do qual lanço a sementeira da nova cultura.
É por isso que a minha machamba tem solos pretos,
enquanto que as dos meus vizinhos estão com terra vermelha”.
“Se uma machamba é feita com recurso a técnicas de agricultura
sustentável, ela produz o suficiente durante muito tempo,
ao passo que as outras técnicas, por exemplo, a de queimada
como forma de limpeza de terreno no máximo são aí cinco anos,
depois ela deve ser abandonada porque não oferece mais
a produção ao nível satisfatório à altura das necessidades do seu produtor”.


Estrutura do solo na machamba do João Jongue
João Jongue conta que graças a esta praxe de agricultura sustentável
que aprendera numa das suas viagens à cidade de
Chimoio e ao distrito de Sussundenga, província de Manica,
nos tempos já idos tendo-a adoptada no seu campo de cultivo há 15 anos,
passou a obter melhores resultados agrícolas.

Segundo narra, no primeiro ano de experiência fez o
ensaio do novo procedimento agrícola apenas numa
parte da sua machamba.
Quando viu que com esta técnica obteve bons resultados,
para além de ter constado que os solos na pequena porção
de terra onde foi introduzida a nova forma de cultivo
conservavam sempre a humidade permitindo ciclos
permanentes de diversas culturas, alargou o método a toda a machamba.

O camponês diz que para evitar o alastramento do fogo
quando os vizinhos agricultores limpam as suas propriedades
agrícolas com recurso a queimadas, faz sempre um quebra-fogo
à volta de todo sua machamba assim que se aproxima a época seca.

Na machamba que visitamos, localizada numa das margens
do rio Nhandar, com cerca de hectare e meio,
o nosso entrevistado diz que tem uma colheita mínima de
uma tonelada de milho e quantidades não reveladas de amendoim,
tomate e outros produtos da machamba em cada campanha agrícola.
A produção é destinada essencialmente ao consumo familiar
e a venda para a gestão da economia familiar.
João Jongue, 70 anos de idade, casado,
pai de nove filhos e avô de 12 netos,
avançou à nossa reportagem que adquiriu aquela porção
de terra através de um outro camponês, cujo nome não precisou,
que o vendera por 150,00MT (cento e cinquenta meticais),
isto nos anos noventa, momentos após a assinatura dos
Acordos Gerais de Paz, que pôs termo aos 16 anos de guerra civil
envolvendo o Governo moçambicano sob a
direcção do Partido Frelimo e a Renamo.

Entretanto, a direcção do Parque Nacional da Gorongosa
tem vindo a colaborar com o camponês em alusão no sentido
de persuadir outros agricultores da região para adoptarem
a mesma técnica de maneio agrário, abandonando as
formas que concorrem para o desbaste de terras, sobretudo na
Serra da Gorongosa onde numerosas árvores são destruídas
anualmente em consequência de uma agricultura não
sustentável para o meio ambiente.
O desmatamento da Serra,
se não for travado, poderá nos próximos tempos fazer
desaparecer as florestas e trazer prejuízos enormes para a
vida das pessoas que vivem nas imediações desta cadeia montanhosa.
Efeitos das queimadas nas machambas tradicionais
Por outro lado, João Jongue encaixa-se a priori no plano
do Governo moçambicano que declarou a Revolução
Verde como uma estratégia no contexto da luta contra
a fome e a promoção de segurança alimentar em Moçambique
com o propósito de reduzir a dependência ao exterior
para aquisição de bens de consumo importados, a medida
que o país registar maior produtividade e produção no
sector agrário para satisfazer as suas necessidades internas.

Moçambique é detentor de uma economia que tem
a agricultura como um dos sectores básicos e este sector.

Carlitos Sunza
Departamento de Comunicação/PNG

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